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Adeus Miltinho! - Por Pe. Leonardo


“Não sei por que as pessoas que a gente ama têm que partir. Sei a dor que seus filhos estão passando neste momento. Fico imaginando minhas tias, na distante, e tão perto, Batalha”. Estas são palavras nascidas do punho do nosso querido Miltinho. Parecia prever o que sentiríamos com a sua partida do nosso meio.

Miltinho você não poderia ter feito isto com a gente. Vi a notícia de usa partida sair tristemente da boca e dos olhos do teu amigo frei Joaquim Trindade, que após a nossa chegada de uma missa de ordenação, na cidade de Lins, se encarregou de me transmitir, o que demorei em crer. Ficou por uns instantes uma grande dúvida, será que o frade está mentindo? A verdade é que não queria acreditar na verdade, como muitos de nós batalhenses.

O sentimento, por um lado, é de orfandade, de vazio, de solidão, saudade. Por outro, reina também um sentimento de profunda gratidão e alegria pela obra deixada pelo amigo Miltinho.

Como é que você sai assim de fininho, levado por este coração que tanto amou? Amou Batalha, amou Dona Deloquinha, Dona Madilte, Dona Teresinha, Dona Conceição, Dona Dila, Sr. Milton, Nacó, Ziroca, Teresinha, seus amigos feitos ao longo destes 40 anos entre nós, e quase ninguém amou tanto São Gonçalo como você, considero um privilégio, que este ano você passe os festejo a ele dedicado, junto dele lá no céu! Você mesmo disse assim certa feita: “Quem me conhece sabe que sou um apaixonado pelas cousas de Batalha. E como não podia ser diferente, por São Gonçalo, que nós cultuamos como Santo e Padroeiro.”

Meu consolo é que, em dezembro passado, te encontrei de relasse na Avenida Frei Serafim, em Teresina, muito rapidamente, me perguntou se eu estava feliz como padre, e que era um orgulho para você, como batalhense, ter um conterrâneo nas fileiras do clero, eu me senti honrado quando você elogiou a minha inteligência, fiquei pensando, e até me envaideci, se o Miltinho fala isto, deve ser verdade, pois você era dono de uma inteligência rara, cultivada pela arte do estudo, a perseverança nas letras e a pesquisa das fontes, tudo isto tecido no mais fino labor de quem procurava os lampejos da sabedoria de Deus.

A sua morte me emocionou por vários motivos. Pelas raízes comuns, pela afinidade com as idéias, pelo jeito simples e pela luta para viver.

Com suas frases curtas e certeiras te devemos o cunho da felicidade nas sínteses, tais como estas nascidas de tua criatividade, você foi o primeiro que cunhou estas frases que se continuam a repetir-se em nossa Terra: “Professora Socorro Souza, nosso Português de ouro”,” Batalha da cor das ametistas”, “São Gonçalo da Batalha”, a cada vez que alguém falar isto, até mesmo sem saber a fonte, tu serás lembrado!

Lembro-me quando você nos surpreendeu, em um junho já bem distante, com a força de sua inovação criativa, num festival junino, com as coreografias elaboradas com tamanha precisão e beleza, que arrancou aplausos e troféus por diversas cidades, por ande passava a “Remelexo do Matuto”, a quadrinha junina que inaugurou um novo jeito em nossos folguedos juninos.

Sua imagem ficará para sempre em nossas retinas, discursando para uma autoridade ou mesmo escrevendo, com o domínio impressionante de nossa língua, e construindo idéias gramaticais de grande beleza, a sua contribuição na narrativa de nossa história ficará marcada nos livros que você escreveu sobre as origens de Batalha e sobre a hagiografia em torno da figura de São Gonçalo do Amarante, até então uma figura pouco conhecida de nosso povo católico.

Sempre nutri grande admiração pela sua inteligência e desenvoltura, sua capacidade de relacionamento, sempre envolvido com as grandes questões de Batalha, seu último desabafo, nos veio através de um comentário a uma crônica que publiquei em homenagem aos 10 anos de falecimento de Toinha Soares, falou do seu descontentamento com as esferas políticas de Batalha, nunca foi daqueles que ficam em cima do muro para ver os dois lados. Homem de opções e ações teve a dignidade de nunca negar as sua origens, sempre teve a satisfação estampada no rosto de dizer a quem o perguntasse, de onde eras: sou da Batalha de São Gonçalo!

Você elevou, divulgou e engrandeceu o nome de nossa Terra, nos inúmeros serviços prestados ao Governo do Estado do Piauí, e por último ao Brasil, na esfera do Ministério da Saúde como chefe do corpo cerimonial.

Poeta do cotidiano, sempre compartilhou com os amigos e amigas a irreverência de seus textos e artigos, publicados em jornais como O Dia, Diário do Nordeste, ou mesmo do seu blog. Artífice da vida, jamais esqueceu aniversários e homenagens, celebrados por você com a alegria das flores, como quem semeava primavera ainda que reinasse o vigoroso verão do Piauí, nos corações. E agora quem cunhará frase-efeitos, quem criará festas, e bailes, tais como: “A rainha do Longá”, “ A rainha da ametista”, e tantas outras?

Miltinho você fez de sua vida uma lição comovedora. No horizonte da sociedade batalhense e piauiense contemporânea você tornou-se uma luz que comprova o quanto é indispensável, o quanto vale a pena e o quanto é a saída principal para novos ordenamentos, sociais e políticos, o gosto pela honradez. Também, a eleição da simplicidade que descomplica a vida, particularmente nas relações com os outros, a unanimidade construída pela despretensão, pelo distanciamento das manipulações, alcançada pelo apreço à transparência nos atos de cada dia.

Sua fé cristã católica testemunhada sem medo e sem falso respeito humano o ancorou em princípios que qualificaram, mesmo nos estreitamentos próprios da criatura humana - por ele formulados sinteticamente - um acervo de verdades, entendimentos, condutas e valores.

Sua vida, coerente e bela, foi o brado maior de quem jamais teve medo de algo tão simples e, no entanto, hoje raro: vergonha na cara. Pois você, fiel às suas raízes, sempre nos recordava que “é de pequenino que se torce o destino”. Tanta ousadia de sua parte o definia: “Sou o que de mim fiz porque assim quis!

Assim, torna-te merecedor do nosso respeito e reconhecimento, serás um baluarte inesquecível, motivação de alegria duradoura, força interior no sofrimento e vivência ajustada da cidadania.

Seu sorriso era limpo, seus olhos se dilatavam diante de uma boa notícia e, ponderado no falar, você gesticulava com exuberância, lentamente, arredondado o movimento dos braços, circunsvolteando as mãos com os dedos indicadores aprumados, e sempre enfático nas afirmações.

Agora, Miltinho, a morte o levou e quis que você assistisse do céu, junto com Dona Deloquinha, sua querida avó, e Dona Teresinha, sua tia, o festejo de São Gonçalo, que você tanto amava, considero isto um gesto da delicadeza de Deus para contigo!

Louvo a Deus, pleno de gratidão, pela dádiva de sua existência. Nós nesta Terra da Batalha vamos sentir muito a falta de quem desperdiçava palavras e esbanjava bom humor e inteligência.

Resta-nos o consolo de saber que sua obra o manterá vivo entre nós e entre as gerações vindouras. E a certeza, na fé, de que quando a gente nasce todos riem e agente chora. Quando morremos todos chovam e a gente ri.

Nesta hora pedimos ao Pai do céu nos estende a mão sobre o abismo da falta de consolo e crença na ressurreição, que porventura nosso coração dúvide. Com a mesma elegância divina com que estendeu a mão na criação de Adão, no quando da capela sistina, pintado por Miguel Ângelo.

No céu, já é alvorada. Chegou uma nova luz. Um filho querido voltou para casa. Os anjos comemoram a volta de mais um anjo para casa.
No dia 17 de dezembro, em Campinas, São Paulo Deus disse a Miltinho: “Agarra-te à minha mão. Eu te conduzirei com segurança por cima do abismo no qual tudo se afunda. Eu te darei a duração para sempre, inserindo-te na minha eternidade.”
 
Segunda-feira de sol e de calor em Batalha. De cantos e de lamentos. De louvor e de emoção. Após uma celebração eucarística, memorial da Paixão de Cristo por nós, celebração da Paixão de Cristo pelo Miltinho, sob os aplausos de São Gonçalo, de quem você era devoto e sob os nossos aplausos teu corpo descerá à escuridão da terra à espera da manifestação da luz!
 
Do céu você continuará a ajudar muita gente, com seu jeito, a caminhar também. A lutar valorosamente! A fazer que o mundo se pareça cada vez menos com uma guerra entre grupos antagônicos, e cada vez mais com uma competição de fraternidade e serviço, alegre como uma tarde no estádio num fim de uma competição entre o nosso Flamengo e o Fluminense, portanto, um clássico Fla x Flu!
Até a eternidade, Miltinho!
 
Pe. Leonardo Sales

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