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AS INCONGRUÊNCIAS DO POLITICAMENTE CORRETO

Vivemos uma época em que está na moda ser politicamente, ecologicamente, pedagogicamente (e outros tantos “mente”) correto. A meu ver, esses “mente” corretos, se não forem praticados com clareza, com discernimento, como opção consciente por determinado comportamento, aproximam-se da ignorância e podem, inclusive, chegar a ser ponto de atitudes manipulatórias por parte de quem deseja consolidar uma dada conjuntura.
Não raro encontramos pessoas que utilizam alguns discursos para se fazerem mostrar que estão em dias, atualizadas com determinado assunto. Se pedirmos para que a criatura explique o porquê de estar dizendo aquilo, o porquê de estar concordando com o tal pensamento, ela não sabe explicar, não sabe dizer, não sabe justificar. Eu já fiz a seguinte pergunta várias vezes a diversas pessoas: “por que você está falando isso?” A resposta: “tenho que falar isso, senão, não serei considerada uma pessoa moderna”. E eu insisti: Mas o que você pensa sobre isso? A resposta: “não sei, nunca parei para pensar”. O que isso traduz, meu caros amigos? Uma completa ignorância em relação ao assunto do qual se trata, nem uma olhadinha sequer no que tem por trás do discurso que está sendo utilizado. Para mim, utilizar o discurso sem ter uma justificativa, sem ter consciência do que está dizendo, não passa de uma experiência de estar sob o controle de alguém, servindo a alguém que possui o interesse de concretizar algo.
Em minha experiência de formador de professores tenho convivido constantemente com situações que traduzem ao pé da letra o que seria o tal comportamento “correto”. Certa vez, em uma turma de primeiro semestre de um curso de licenciatura, curso de formação de professores, discutíamos sobre um determinado tema e uma aluna, que já era professora e com bastante experiência, deixava entender, nas entrelinhas de sua fala, que não concordava com alguns dos aspectos que eram tratados naquela ocasião. Porém, durante todo o tempo de discussão, ela dizia: “mas agora eu tenho que dizer assim, não é, professor, de jeito tal e tal, porque eu agora estou na universidade e professor que faz a graduação tem que falar é assim”. E eu, na oportunidade, rebati: “Mas, por que professor que está estudando na universidade tem que falar assim? Você concorda que deve ser assim? A experiência que você tem como professora lhe permite pensar que assim pode dar certo?” A aluna respondeu: “professor, se a gente não disser isso dessa forma, vão dizer que a gente não estuda, não sabe”. E eu continuei lá minhas estratégias para ver se conseguia ir mais a fundo na questão com a aluna. O certo é que há uma busca por enquadrar-se em algo que, na maioria das vezes, não se sabe nem o que é, ou até se chega a discordar, adotando-se uma postura que não passa do aparente.
Isso que acabei de dizer não é diferente da forma como alguns políticos se comportam durante as campanhas eleitorais ou no exercício de mandato, nas oportunidades de aparição pública. Muitos chegam a afirmar que defendem segmento A ou B tentando passar para a opinião pública a ideia de que são atuais, modernos e “por dentro” do que está na moda. Muitos deles são nossos velhos conhecidos por suas práticas que, nem de longe, estão em consonância com o que pregam. Mais uma vez predomina a falta de preocupação em articular o que pensam com o que dizem, fazendo reinar o aparente através do que seria politicamente correto.
Além disso, é assustadora a quantidade de pessoas que desenvolveram verdadeira ojeriza em relação a determinados comportamentos há muito praticados pelos indivíduos no meio social sem terem uma explicação pessoal, própria, elaborada de acordo com o que realmente pensam, só por que boa parte das pessoas estão fazendo assim, dizendo assim,se comportando assim. Esquecem (ou não sabem, ou não querem aprender ou tem preguiça) de parar para refletir sobre o que estão fazendo, dizendo e se comportando. É bom que se diga que eu não estou aqui a fazer julgamentos acerca de nenhum comportamento como bom ou ruim. O fato é que penso que precisamos saber o porquê de estarmos sendo contra ou a favor das coisas, ter consciência de nossas opções, fazer escolhas com discernimento, refletindo sobre o que estamos fazendo, evitando ser uma espécie de “Maria-vai-com-as-outras”, sendo levada pelo que nem sabe o que é, deixando de ser sujeito participante de sua própria vida.
Diante disso, penso que o politicamente, ecologicamente, pedagogicamente e os outros milhões de “mente” corretos que existem podem representar muito mais do que um simples modismo. Alíás, ao serem utilizados como modismos, os “mente” não servem à edificação do indivíduo enquanto gente, enquanto alguém que tem a possibilidade de pensar e tornar-se um sujeito que participe de forma ativa da sua própria vida e da vida social. Os “mente” corretos precisam ser observados com cuidado para não tornarem as pessoas objeto de manipulação, meios de se estabelecer o que apenas uma pessoa ou um determinado grupo pensa. Se for para ser assim, agir de forma “mente” correta, sem saber o porquê, sem ter sido uma escolha feita com clareza e discernimento, sem ter sido uma opção consciente, considero preferíveis os “politicamente incorretos”, desde que tenham justificativas pessoais e saibam o porquê de seus comportamentos e escolhas.

Raimundo DUTRA
Universidade Estadual do Piauí
Mestre em Educação - Universidade Federal do Piauí
Doutorando em Educação - Universidade Metodista de Piracicaba/SP

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