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BATALHA: UM LUGAR PARA AMAR E, TAMBÉM, PARA VIVER

Pensando na vida, peguei-me novamente pensando na vida batalhense, no cotidiano batalhense. Há muito venho observando que nós, batalhenses, temos um sentimento diferente com relação à terra natal. Somos muito ligados às nossas raízes, às nossas tradições, aos nossos amigos que tem em comum uma terra que o nome “em nosso peito faz pulsar”. Temos um prazer enorme em dizer que somos de Batalha, em falar de nossa história, em falar das riquezas que nossa terra tem. Nos emocionamos quando lembramos dos fatos vivenciados entre nossos conterrâneos.
Eu mesmo, por inúmeras vezes, encho os olhos de lágrimas ao lembrar das belezas e prazeres que nossa terra já proporcionou. Vejo isso desde quando saí da minha querida Batalha para morar em Teresina. Sempre observei e comparei entre meus colegas, a maioria vinda do interior, assim como eu. Eu, assim que sai de Batalha para morar em Teresina, queria estar todos os finais de semana em Batalha, chorava, chorava e sofria muito com um sentimento denominado saudade. Confesso que ainda hoje, de vez em quando, choro com essa mesma saudade, que insiste em bater a minha porta. Posso adiantar que, em toda e qualquer oportunidade, gesto que repito até hoje, a primeira informação que repasso a alguém é que sou batalhense, sou filho de Batalha, município que fica na região norte do Piauí. Isso tem sido meu cartão de visita em todo e qualquer lugar onde me encontro, em todas as regiões do país. E isso tem sido uma diferença com relação às pessoas do meu convívio que tem uma origem interiorana, assim como eu. Sempre trouxe no peito, com muito orgulho, o sentimento de batalhensidade. É tão tal que isso faz parte da minha identidade em todo e qualquer contexto em que me insiro.
Pois bem. Além de olhar para minha experiência pessoal enquanto cidadão de Batalha, porque é assim que me considero e tenho orgulho por assim me sentir, tenho observado também a forma como algumas outras pessoas, amigos, colegas e conhecidos fazem referência a tal aspecto. Tenho observado, com base nos diálogos que mantenho com batalhenses que saíram da nossa terra querida, que moram em outros lugares, que foram adotados, assim como eu, em outros berços, que a saudade de nossa terra aumenta a cada dia, que o sentimento do “querer bem” aumenta a cada dia, que o orgulho por ter nascido na terra de São Gonçalo cresce sempre. Nossa auto-estima com relação à terra-mãe é bem equilibrada, mantém-se em um nível considerável.
Por outro lado, existe uma preocupação. E aqui não estou apontando o dedo para A ou para B, estou levantando questionamentos, instigando uma reflexão acerca da experiência da vida, da qualidade que eu entendo que o viver precisa ter e que tanto desejo que meus conterrâneos venham a usufruir dessa qualidade, vivendo com dignidade, empenhando esforços para o desenvolvimento do lugar em que vivem. Assim, não me furtarei, em momento algum, de deixar claro o que estou sentindo agora, de expressar o que percebo a cada vez que vou à minha amada Batalha. Não vejo as pessoas que moram em Batalha, que vivem o cotidiano batalhense, expressarem esse amor, esse sentimento que nós, que moramos fora, expressamos. Já ouvi de muitos batalhenses que moram em outras cidades que querem “terminar seus dias de vida” em Batalha. Já ouvi de muitos batalhenses que moram fora que querem seu corpo enterrado na cidade onde seu “umbigo ficou”. Eu mesmo já disse isso por diversas vezes e repito com frequência. Para ser mais claro, basta olhar em quem declara, de forma explícita, esses sentimentos com relação à nossa terra amada nas oportunidades que surgem. Perceberam? Considero maravilhoso ouvir, ler, conversar sobre esse amor que temos a Batalha. Mas será que esse amor não precisa ser cantado, falado, sentido, também por quem vive os 365 dias do ano na terra que merece ser “sempre exaltada?” E porque será que isso não ocorre? Estaria eu dizendo que o sentimento de amor está dando lugar ao sentimento contrário? Evidente que não!
É preciso deixar claro que esse sentimento positivo com relação ao município, a auto-estima elevada com relação ao lugar em que se vive, depende, em muito, das condições que se tem para viver nesse lugar. Depende da qualidade dos serviços que são prestados. Depende da valorização e do respeito que se confere à história desse lugar. Depende do reconhecimento que se atribui aos cidadãos que marcaram sua época em qualquer área, nas artes como um todo, no serviço público, na iniciativa privada, nas relações estabelecidas com as pessoas cotidianamente etc. E isso nós temos como poucos. Percebemos algumas iniciativas, muitas vezes individuais, que buscam fazer esse resgate. Isso é louvável, é, inclusive, o único tipo de ação que temos nesse sentido, mas não é suficiente. Não é suficiente porque ações que abranjam esses aspectos precisam estar inseridas nas políticas públicas municipais, isso precisa fazer parte do plano de governo de quem quer que seja que esteja comandando a administração do município.
Então é isso! Penso que um município existe a partir de lembranças, de história, de memória, tudo isso sendo altamente importante, pois é o reflexo de uma época, de uma etapa na vida das pessoas e do município, realizações relevantes para a construção do presente e do futuro, mas não é só isso. Um município vive de cotidiano, de relações que se estabelecem e se mantém a cada minuto, a cada momento. Um município vive a partir das experiências vitais de seu povo, da satisfação que o povo tem em ali estar, em dali ser. E não é isso que eu percebo em quem vive o cotidiano de Batalha. Não é isso que ouço quando vou a Batalha, e olhe que vou com uma certa freqüência, apesar de morar distante. O certo é que isso é preocupante. Preocupa porque fico pensando nos 365 dias do ano que cada batalhense tem. Preocupa porque penso na qualidade de vida que meus conterrâneos tem. Preocupa porque penso no conceito que meus conterrâneos tem de uma terra que merece ser “eternamente amada”. Não consigo admitir que no “farfalhar dos canaviais” de minha terra não se procure ser feliz, já que ser feliz é tudo que se precisa e o que se quer.
Diante disso, questiono: o que estaria acontecendo, então? Por que será que meus conterrâneos que vivem o cotidiano do município não exaltam o seu valor assim como nós que moramos fora? Por que será que nossos irmãos que estão na lida do dia a dia batalhense não possuem a auto-estima, com relação à terra-berço, no mesmo nível que nós, que moramos fora, temos? Por que será que o amor a Batalha é cantado em prosa e verso só por quem nela não está cotidianamente, de corpo, por que de alma está? As questões que levanto aqui precisam ser consideradas pela população como um todo e pelos administradores de nossa terra, pois quem vive o dia a dia de um município precisa de qualidade de vida, precisa gostar de estar ali, precisa amar o lugar onde está, precisa ter zelo pelo lugar onde está.Para que o município venha a se desenvolver é necessário que tenha a participação de todos, e os cidadãos só podem participar se se sentirem parte, se se sentirem à vontade em seu lugar, no seu município. Novamente pergunto: o que vem sendo feito para que nossos conterrâneos tenham prazer em viver o cotidiano batalhense? O que vem sendo feito para que a qualidade de vida dos batalhenses respalde um sentimento de orgulho por ter nascido na terra onde os “riachos serpenteiam murmurando?” É preciso, e urgente, que nos preocupemos com essas questões, é preciso que nos preocupemos com a qualidade de vida dos batalhenses, é preciso que nos preocupemos com o que pode ser feito para melhorar o dia a dia de nossa gente, e isso inclui saúde, educação, infra-estrutura, meio ambiente, cultura, assistência social, agricultura etc.Inequivocamente ressalto que um bom direcionamento em todos esses setores pode resultar em melhores dias para nossos conterrâneos, pode resultar na elevação da auto-estima do nosso povo, que vive o cotidiano batalhense, com relação à terra natal. Pois desejamos um município onde cada cidadão tenha prazer, satisfação em morar ali, em ali estar. Desejamos um município onde cada cidadão se sinta instigado a trabalhar pelo engrandecimento de sua terra. E isso tudo resulta em desenvolvimento. Isso resulta em progresso. Isso resulta em um lugar melhor para se viver.

Raimundo Dutra - Pedagogo. Psicopedagogo Clínico. Professor Universitário. Mestre em Educação.Doutorando em Educação. Filho de Dona Maria do Carmo e Luiz Dutra. Batalhense da gema.

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