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UMA CONVERSA QUE PROVOCA INDIGESTÃO

Recentemente, enquanto esperava um prato solicitado a um garçom em um restaurante lotado, na esperança de ver o tempo passar de uma forma menos incômoda, fiquei a observar as pessoas que também aguardavam seus pedidos serem atendidos. Observava os trajes, os comportamentos, as irritações, os bocejos e as conversas. Em uma mesa ao lado da que eu me encontrava acomodado com dois amigos, estavam sentadas cinco pessoas, dentre elas, dois jovens senhores de boa aparência, onde um se dizia suplente de vereador e pré-candidato a vereador de um município do norte do Piauí nas próximas eleições e o outro se acusava de apoiador de um certo pré-candidato a prefeito, além de pretenso secretário de Cultura e Esporte do mesmo município. Os dois, animadamente, tagarelavam de forma ininterrupta sobre os acontecimentos políticos no Piauí, mais especificamente, sobre as eleições municipais do pleito de 2012.
Minha atenção foi fisgada pelo papo que rolava na mesa ao lado. A cada frase, a cada gesto, eu ficava mais atento e chegava, às vezes, a sorrir motivado pelo que ouvia, pois, apesar de considerar as frases ecoadas pelos dois moços recheadas de imoralidade, o que provocava uma certa indignação, não tinha como disfarçar o tom cômico que aquilo parecia ter.
Infelizmente, o que eu ouvia é o retrato de grande parte dos que dizem que “fazem política” no interior do Estado, principalmente nos municípios menores, onde a ausência de um pensamento coletivo é marcante, além do desprovimento da ética e do compromisso com o que é público. O tal suplente de vereador e pré-candidato a vereador dizia: “vereador não é pra fazer nada mesmo não, quem tem que fazer alguma coisa é o prefeito, que só precisa mesmo pagar os funcionários da prefeitura e nada mais. Assim, sobra dinheiro pra dar pra gente que apóia ele, porque só o salário de vereador não dá pra pagar faculdade de filho, pagar aluguel de casa em Teresina e ainda comprar remédio para os eleitores que votam na gente”. O parceiro de diálogo do tal suplente de vereador concordava plenamente com a idéia do companheiro, dizendo: “é isso mesmo, penso igual a você. Quem passa três meses pegando sol e chuva pedindo votos é a gente, então é a gente que precisa ser bem tratado”.
Enquanto os dois travavam essa conversa mais do que “honesta” e “comprometida” sobre política, aparece um sujeito conhecido dos dois, que, ao passar ao lado da mesa, os vê e para para cumprimenta-los. Para minha tristeza e aumento da indignação foi formado um trio de “políticos sérios”. O tal conhecido se acusava de vereador de um município vizinho e, rapidamente, analisou os acontecimentos políticos do seu município e aproveitou para fazer previsões. Ao tratar sobre os possíveis aliados para a campanha deste ano, disparou: “o fulano (prefeito) está trabalhando muito, o candidato que ele apoiar certamente será eleito, pois o homem ali sabe trabalhar em política, não é igual ao fulano não. Ele sabe usar as estratégias direitinho para segurar os aliados. Um dia desses, fulano pediu um Gol zero km e ele deu um Gol seminovo. Passados alguns meses, o mesmo fulano pediu uma D-20 e ele deu um Gol zero km. E agora o mesmo fulano pediu uma Ranger, e ele já disse que vai segurar o pedido para dar uma D-20 quando estiver bem perto da eleição”.
Mesmo estarrecido com tais histórias, eu ainda conseguia rir ao ouvir os diálogos travados, pois pareciam brincadeiras de quem se dispunha a fazer política com a intenção de trocar os postos e cargos públicos por picadeiros de circo (com todo o respeito que os artistas circenses merecem, pois eles tem uma profissão e a exercem na labuta diária do trabalho).
Eu, que pensava já ter visto e ouvido “de um tudo” na vida sobre política, ainda tive a inenarrável indignação motivada pela fala de um dos jovens senhores que estavam à mesa à espera do atendimento do seu pedido, que bradou: “eu quero a linha do transporte escolar da comunidade tal. Mas também quero uma portaria para ser secretário de cultura e esporte, pois com esse dinheiro fica garantido o colégio do meu filho e a faculdade da minha filha”. O parceiro, ao ouvir a pretensão do amigo, retrucou: “mas você vai ter tempo para assumir essa secretaria, já que você é funcionário do setor tal na prefeitura do município tal?” Imediatamente, o pretenso secretário respondeu: “mas é claro que eu tenho tempo, ser secretário de cultura e esporte não é só dia de domingo?” Eu, que já estava com as tripas dando nó de tanta fome e nada de ter meu prato servido, recebi ainda esse bofete no estômago para piorar ainda mais a situação.
Depois de tanto tempo aguardando, o garçom trouxe a comida. Os pratos já estavam dispostos havia um bom tempo, tanto na mesa em que eu estava como na mesa dos ditos “fazedores de política”. Pensei: “agora eles vão saciar a fome deles e vão melhorar as ideias”. Confesso que pensei que a presença de tantas ideias imorais sobre política naquela mesa fosse reflexo do estado de fome em que se encontravam aqueles indivíduos. Infelizmente, parece que a comida não foi suficiente, ou então não era aquele tipo de alimento que o organismo deles precisava, pois a conversa continuou com o mesmo tom. Assim, cheguei à conclusão de que a fome por comida naquele instante era momentânea e menos intensa. Ali, parecia existir uma fome interminável de poder, uma fome arrasadora de favorecimento individual, uma fome insaciável de benefícios pessoais. Em mim, reinava a indigestão, o engasgo e a ânsia de vômito ao pensar sobre o que seria (ou será) do pobre município que possui políticos com esse perfil representando o povo. Com tanta falta de ética, de compromisso e de respeito ao que é público, a ação de quem diz que “faz política” dessa forma só pode é matar o povo de fome.
 
Raimundo Dutra - Bidoca

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